Neuralgia Do Trigêmeo – Dor Trigeminal
O que é a dor trigeminal?
É uma dor na face, em um ou mais territórios de inervação do nervo trigêmeo, que ocorre em ataques (paroxismos), com duração de segundos até dois minutos.
A dor deve, obrigatoriamente, ter as seguintes características:
1) dor intensa, aguda, superficial (normalmente muito incapacitante);
2) dor descrita como semelhante a um choque elétrico, corte ou queimação (características de uma dor neuropática);
3) dor de início espontâneo na zona-gatilho ou desencadeada por estímulos inócuos na zona-gatilho. As zonas-gatilhos são áreas de face, narinas ou boca que, ao toque leve, podem desencadear as crises de dor.
Fatos interessantes sobre a neuralgia do trigêmeo:
– É uma dor classificada como neuropática (originária de disfunção de um nervo – no caso, o nervo trigêmeo);
– Podem ocorrer centenas de crises por dia, e ficar até anos em remissão (silenciosa);
– Tem um incidência populacional de 12,5 a 27 casos a cada 100.000 habitantes;
– É incomum abaixo dos 40 anos, mas muito frequente acima dos 60 anos;
– 70% dos pacientes são do sexo feminino.
Como se faz o diagnóstico da dor trigeminal?
O diagnóstico é essencialmente clínico, levando-se em conta dados de história do paciente: idade, gênero, características da dor já estabelecidos na prática médica (localização facial, intensidade elevada, geralmente em choque, de curtíssima duração). Na maioria das vezes, não se encontra uma causa subjacente, e exames subsidiários não são necessários.
Entretanto, há uma fração dos pacientes que têm a dor trigeminal associada a outras doenças (herpes zoster, esclerose múltipla, tumores ou aneurismas cerebrais, traumatismos cranianos), não se encaixando na definição de dor trigeminal primária ou clássica. Nestes casos, o médico pode solicitar exames específicos para esclarecer a condição associada.
Cabe ao especialista diferenciar uma neuralgia do trigêmeo clássica de uma forma dolorosa (aquela com uma causa associada).
Tratamento da dor trigeminal:
A dor trigeminal clássica é tratada, com grande taxa de sucesso, com medicações. As mais comuns e eficazes são a carbamazepina, a oxcarbazepina, e a gabapentina. As doses são aumentadas gradativamente, até atingirem os efeitos desejados ou o limite de tolerância para o paciente. O tratamento é, normalmente, de uso contínuo e prolongado.
Outras medicações que podem ser utilizadas quando as mais comuns não atingem resultado são a fenitoína, a lamotrigina, a amitriptilina, o baclofeno, e o clonazepam.
A toxina botulínica, aplicada em alguns músculos da face e em pontos-gatilhos, é uma opção para complementar os resultados insatisfatórios das medicações.
Lembre-se que cabe ao médico a escolha do tratamento mais adequado para pacientes diferentes com a mesma doença!
Preciso de cirurgia para tratar?
Os procedimentos cirúrgicos para tratar a neuralgia primária do trigêmeo são indicados apenas quando a reposta aos medicamentos for insatisfatória (não atingiu o efeito desejado ou provocou efeitos colaterais intoleráveis), o que pode ocorrer em até 75% dos pacientes a longo prazo.
As modalidades mais comumente indicadas pelos especialistas são: a descompressão microvascular e a rizotomia percutânea (por balão, por radiofrequência ou por glicerol).
Menos frequentemente indicadas são as neurectomias dos ramos do nervo trigêmeo, a radiocirurgia estereotáxica, a nucleotratotomia e a estimulação do córtex motor.
Todos estes tratamentos possuem benefícios e desvantagens, que devem ser analisados levando-se em conta tempo de doença, resposta a tratamentos prévios e condições de saúde do paciente.
O que é a rizotomia percutânea do trigêmeo?
É um procedimento menos invasivo para tratamento da dor trigeminal. Consiste na punção da pele da face (sob anestesia local e sedação), dirigida a um orifício natural ósseo da base do crânio (o forame oval) para se atingir o gânglio do nervo trigêmeo – a origem dos três ramos principais deste nervo.
Uma vez no alvo, o cirurgião pode fazer lesões térmicas (com um gerador de radiofrequência), químicas (com um álcool chamado glicerol) ou mecânicas (insuflando um pequeno balão). Qualquer que seja a técnica, o objetivo é lesionar as fibras nervosas que transmitem a dor, e promover o controle da dor pelo maior tempo possível.
O efeito é imediato (mais de 90% de sucesso inicial), com alterações de sensibilidade transitórias da face. A longo prazo (em cerca de 5 anos), até 50% dos pacientes podem ter recorrência da dor e necessitar de novo tratamento.
O que é a descompressão microvascular para a neuralgia do trigêmeo?
É um procedimento sob anestesia geral, que exige a abertura do crânio (na região atrás da orelha) para o cirurgião identificar visualmente o nervo trigêmeo.
Em cerca de 90% dos pacientes com esta condição, é possível identificar uma alça vascular arterial em contato com a zona de entrada do nervo trigêmeo no tronco encefálico. Esta alça deve ser dissecada, individualizada e separada do nervo por técnica microcirúrgica.
A resposta imediata de controle de dor é muito satisfatória. É a técnica que tem melhor resultado a longo prazo, com 70% dos pacientes sem dor após 10 anos de cirurgia.
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