Futebol e Coluna – Entenda essa disputa

As lesões da coluna pelo futebol são menos comuns que as lesões na musculatura da coxa e do joelho, e têm prevalência de 9 a 14% entre os praticantes amadores e profissionais do esporte.
Podem acometer qualquer segmento da coluna (cervical, torácico ou lombar).

Os fatores de risco identificados para maior probabilidade de ter uma lesão durante a prática do futebol são a idade mais jovem (devido à imaturidade do sistema esquelético e muscular) e sexo feminino.

Durante a prática, as lesões são mais comuns nas partidas (menos comuns nos treinos), quando as exigências de desempenho são maiores (partidas profissionais e internacionais), e os meio-campistas e goleiros são os mais acometidos.

 

Movimentos no futebol e lesões de coluna

O futebol é um esporte em equipe e de contato, de alta intensidade e competitividade.

Em momentos como divididas de bola, dribles, chutes, saltos, corridas em alta velocidade, trauma contra a cabeça nas traves do gol ou contra a bola, a coluna vertebral é exposta a movimentos de alta demanda em flexão, extensão, torção e rotação axial.

Todos esses movimentos oferecem riscos de lesões agudas (identificadas imediatamente durante uma partida ou treino) ou de uso excessivo (microlesões que comprometem a estabilidade da coluna a longo prazo), já comprovadas cientificamente.

Por isso, entende-se que o preparo de força, resistência e controle neuromuscular do jogador são fundamentais para executar movimentos controlados e prevenir lesões, protegendo sistemas articulares e ligamentares de forças nocivas.

 

Lesão da coluna lombar no futebol

Como lesões agudas, são comuns as distensões musculares e lesões ligamentares como causas de dor lombar nos jogadores de futebol. Normalmente ocasionam redução da amplitude de movimentos do tronco, e não estão associadas a deficiência neurológica ou a outras “red flags”.

As hérnias discais são mais prevalentes em atletas que na população geral, mas têm evolução clínica semelhante. Também causam dor lombar, principalmente ao ficar sentado, ao tossir e espirrar, melhoram ao ficar em pé, e podem se associar a irradiação da dor para um ou ambos os membros inferiores.

Qualquer perda de força ou de sensibilidade, ou “formigamentos” nos membros inferiores deve ser melhor avaliada com exame clínico e com exames de imagem.

O tratamento normalmente é conservador, com analgésicos, fisioterapia e eventualmente alguns tipos de bloqueios e infiltrações, que aceleram o retorno à prática esportiva.

A cirurgia para hérnia de disco é indicada nos casos em que há deficiência neurológica ou em que o tratamento conservador não promoveu alívio e o atleta precisa retornar às atividades o quanto antes.

A microdiscetomia tem resultados muito favoráveis, com 75% a 100% dos atletas de elite retornando às atividades em 6 meses.

 

Chutar a bola pode lesionar a coluna?

Já são conhecidas e estudadas as alterações posturais do tronco durante um chute: numa primeira fase, há uma hiperextensão da coluna lombar (inclinação para trás) no preparo para o chute; na segunda fase, há o toque do pé na bola com o tronco alinhado; na terceira fase, há uma hiperflexão da coluna lombar (inclinação para frente) com a extensão completa da perna que chuta.

A morfologia da coluna lombar e da pelve do jogador, avaliada através de radiografias e medidas de alguns parâmetros (lordose, incidência pélvica) pode predispor a coluna à alguns tipos de lesões por mecanismos “quebra-nozes” ou “cisalhamento” das unidades vertebrais durante os movimentos do chute, após inúmeras repetições ao longo da vida esportiva, levando a alterações degenerativas de longo prazo.

Dor lombar de difícil controle, associada ou não a deficiência neurológica, podem ser consequência dessa degeneração da coluna, e podem requerer tratamentos como repouso, analgésicos, fisioterapia, bloqueios ou infiltrações, e cirurgias com estabilização através de implantes (artrodeses) nas situações mais graves.

 

Artrodese da coluna

Sabidamente jogadores de futebol entre 20 e 40 anos com dor lombar grave já iniciaram processo degenerativo discal, com repercussões futuras sobre a estabilidade da coluna.

Esta degeneração discal é muito prevalente durante a vida ativa esportiva, e é ocasionada por exposição frequente a microlesões com efeitos cumulativos na coluna.

Outras lesões comuns são fraturas de estresse das pars interarticularis levando à espondilólise, com ou sem deslizamento de vértebras (espondilolistese), já encontradas em até 30% dos jovens jogadores de futebol e atletas de outros esportes.

Fraturas de estresse sobre os platôs vertebrais e processos transversos também são comuns. Em situações de traumas de mais alta energia, outras fraturas mais complexas e graves podem ocorrer.

Nas situações em que a coluna se torna instável, e o quadro de dor e deficiência neurológica se tornam intratáveis, há necessidade de procedimentos como a cirurgia com instrumentação (artrodese de coluna).

É consenso entre os especialistas que, os jogadores operados que melhoram da dor, que recuperam a flexibilidade, a força e a resistência, e que mostram nos exames de imagem sinais de sólida fusão, podem retornar à prática esportiva.

 

Cabecear a bola pode lesionar a coluna?

Sabe-se que, em média, um jogador vai cabecear a bola 5 a 6 vezes durante uma partida de futebol.

Isso o coloca em risco elevado para herniações discais na coluna cervical. Já se sabe que alterações de desgaste dos discos e articulações da coluna cervical (alterações degenerativas), ocorrem 10 a 20 anos mais precocemente em jogadores quando comparados à população geral.

As hérnias discais e as alterações degenerativas de longo prazo podem ocasionar dor no pescoço, dor irradiada, “formigamentos”, perda de sensibilidade ou de força nos membros superiores.

Em todas as situações, cabe ao especialista avaliar sinais clínicos de maior gravidade (“red flags”), decidir pelo método mais adequado de investigação (exames de imagem) e o tratamento (conservador ou cirúrgico).