Hidrocefalia

A hidrocefalia é o acúmulo anormal do líquor ou líquido cefalorraquidiano (LCR) nos espaços naturais do cérebro chamados ventrículos. Nos exames de imagem, como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética, ela aparece, portanto, como uma dilatação dos ventrículos.
É uma condição que pode ser encontrada em qualquer faixa etária e tem diversas causas. Pode ser assintomática, ou causar alterações cognitivas (dificuldade de aprendizagem, demência), ou apresentar-se com sinais e sintomas de hipertensão intracraniana (dor de cabeça, náuseas, vômitos, sonolência, turvação visual), ou levar ao óbito.
As manifestações dependem de como a hidrocefalia se instalou (de forma rápida e aguda, ou lenta e progressiva), da faixa etária quando ocorreu, do volume de LCR nos ventrículos envolvidos.

 

Você sabe quais são as principais causas da hidrocefalia?

São elas:
– Etiologia congênita: isolada ou associada a síndromes ou malformações no recém-nascido e na infância (malformação de Chiari, malformação de Dandy Walker, estenose de aqueduto);
– Etiologia adquirida: em qualquer faixa etária, associada a alguns tipos de tumores encefálicos, hemorragias espontâneas (ruptura de aneurismas, acidentes vasculares hemorrágicos, sangramentos da prematuridade) ou hemorragias traumáticas do sistema nervoso, infecções do sistema nervoso (meningites), trombose cerebral, atrofia pelo envelhecimento ou em demências, pós-operatório de cirurgias intracranianas.
Em caso de suspeita, agende uma consulta com um Neurocirurgião!

 

Quais as opções de tratamento mais conhecidas e utilizadas para a hidrocefalia?
São eles:
– Medicamentos como diuréticos (acetazolamida, furosemida) e corticoides, de efeito imediato e caráter transitório;
– Cirurgias como as derivações ventriculares externas (DVE), de efeito imediato e caráter transitório;
– Cirurgias como as derivações ventrículo-peritoneais (DVP) ou ventrículo-atriais (DVA), lombo-peritoneiais (DLP), de efeito imediato e definitivo (são conhecidas genericamente como “válvulas”);
– Cirurgias endoscópicas, como a terceiro-ventriculostomia, de efeito imediato e definitivo.
Sempre que a hidrocefalia tiver uma causa tratável (tumor, por exemplo), o tratamento desta causa será a primeira escolha.

 

O que são as “válvulas” para hidrocefalia?
São dispositivos mecânicos utilizados para controlar a drenagem do líquido cefalorraquidiano quando se implanta uma derivação.
Derivar, neste contexto, significa desviar o fluxo do líquido cefalorraquidiano, em excesso, para outra cavidade anatômica (abdome, coração, espaço pleural, bexiga), aliviando a hipertensão intracraniana.
As válvulas disponíveis no mercado têm pressões nominais pré-fixadas, de valor constante, ou pressões que podem ser modificadas durante o uso (válvulas programáveis).
Como todo implante, estão sujeitas a complicações como obstrução, desconexão, quebra, infecção, desgaste, levando ao mau funcionamento, que habitualmente requerem uma substituição através de nova cirurgia.

 

Hidrocefalia na Infância
Nas crianças recém-nascidas, até o fechamento completo das fontanelas (“moleiras”) que ocorre por volta dos 2 anos de idade, a hidrocefalia pode se manifestar com aumento do tamanho da cabeça (aumento do perímetro cefálico), dificuldade para sustentar a cabeça, abaulamento e aumento de tensão das fontanelas, atraso no desenvolvimento motor, irritabilidade, sonolência, náuseas e vômitos, respiração irregular e desvios do olhar.
A ultrassonografia obstétrica normalmente consegue diagnosticar a hidrocefalia no período pré-natal, seja ela isolada ou associada a malformações ou tumores.
Após o nascimento, a ultrassonografia transfontanela, a tomografia computadorizada e a ressonância magnética são os exames de escolha.
O obstetra, o pediatra e os pais são, portanto, muito importantes no reconhecimento precoce desta condição, encaminhando para avaliação especializada do neurocirurgião.

 

Hidrocefalia de Pressão Normal
A Hidrocefalia de Pressão Normal é uma forma de hidrocefalia presente em indivíduos com mais de 60 anos, caracterizada pela tríade: demência, dificuldade de marcha e incontinência urinária.
Seu diagnóstico é importante porque é um dos poucos tipos de demência tratável.
É chamada de pressão “normal” porque as medidas de pressão liquórica feita nos indivíduos acometidos está dentro da faixa de normalidade, acreditando-se hoje que a doença se desenvolva por alterações na pulsatilidade do líquido cefalorraquidiano (e não pelo seu volume ou pressão aumentados).
Por acometer a população geriátrica, o médico deve fazer a diferenciação clínica e laboratorial com doença de Alzheimer, doença de Parkinson, demência vascular, neurosífilis e outras doenças neurodegenerativas, infecções urinárias, hiperplasia prostática benigna, câncer de próstata ou bexiga, problemas na coluna vertebral (canal estreito).
Uma vez confirmado o diagnóstico, o tratamento de escolha são as derivações (normalmente ventrículo-peritoneais (DVP) ou lombo-peritoneais (DLP)).

 

Toda hidrocefalia deve ser tratada?
A resposta é: não.
Deve ser tratada apenas a hidrocefalia com sinais de hipertensão intracraniana (cefaleia, náuseas, vômitos, sonolência, turvação visual), que promova atraso do desenvolvimento neurológico ou aumento anormal do tamanho da cabeça em crianças, que ocasione síndrome demencial e distúrbios de marcha em idosos.
A ventriculomegalia constitucional, as malformações do sistema nervoso que deformam os ventrículos e simulam um aumento dos ventrículos, a hidrocefalia “ex-vácuo” (relacionada à atrofia cerebral), são exemplos de condições que não precisam de tratamento.
Cabe sempre ao neurocirurgião correlacionar a história clínica com os exames de imagem apresentados para decidir quando e como tratar cada situação.