Entenda a Espasticidade

O QUE É ESPASTICIDADE?

A espasticidade é uma disfunção motora involuntária- afeta músculos levando a anormalidades de ações e posturas, e não pode ser controlada pelo paciente. Acomete músculos do tronco e dos membros, em qualquer faixa etária, em ambos os sexos.
Ela tem uma característica fundamental: é uma anormalidade que se manifesta ligada à VELOCIDADE do movimento, tanto ativo (executado pelo paciente) quanto passivo (realizado pelo examinador). É isto que a difere de outras anormalidades motoras. Portanto, é um aumento do tônus muscular (ou hipertonia) velocidade-dependente.

Sua presença é referida pelos pacientes ou familiares como “rigidez”, oposição à mudança de uma postura ou ao movimento de uma articulação, ou como uma dificuldade para realizar determinados movimentos voluntários ou automáticos (como a marcha). Médicos (neurologistas, neurocirurgiões, ortopedistas, fisiatras) estão capacitados para detectá-la no exame físico.

Se você conhece alguém com quadro semelhante, não deixe de indicar um especialista para confirmar o diagnóstico!

 

CAUSAS DA ESPASTICIDADE?

Arcos reflexos segmentares (no tronco encefálico ou na medula espinhal) funcionam de maneira anormal (com respostas exageradas) nos pacientes com espasticidade, levando à hipertonia (aumento do tônus muscular). Isto ocorre quando tais reflexos perdem a influência do encéfalo e de suas vias neuronais regulatórias.

Por isso, virtualmente qualquer doença que acometa as áreas do encéfalo e as vias envolvidas com o controle dos movimentos pode levar à manifestação da espasticidade.

São as doenças mais comuns: paralisia cerebral, anóxia neonatal, hidrocefalias, malformações do sistema nervoso central, medula ancorada, acidentes vasculares encefálicos (isquêmicos ou hemorrágicos), esclerose múltipla, traumatismo cranioencefálico, traumatismo raquimedular, tumores cerebrais e medulares, etc.

É altamente provável que, em algum momento do diagnóstico ou da evolução destas doenças, a espasticidade faça parte do quadro clínico, necessitando do especialista para seu manejo adequado.

 

SINAIS QUE ACOMPANHAM A ESPASTICIDADE

Raramente a espasticidade existe como sinal isolado. Podemos encontrar nos pacientes:

– Fraqueza ou dificuldade motora de um ou vários membros;
– Clônus: movimentos oscilatórios rápidos, repetitivos, desencadeados aos movimentos bruscos de algumas articulações, que podem desaparecer espontaneamente, ou persistir por minutos;
– Hiperreflexia: quando o médico utiliza o martelinho dos reflexos, notam-se respostas exageradas, bruscas, de grande amplitude, e às vezes acompanhadas de clônus;
– Reflexos patológicos: são algumas respostas reflexas primitivas (que perdemos ao longo do desenvolvimento neurológico normal);
– Distonia: movimentos involuntários repetitivos, normalmente em torção dos membros e/ou do tronco;
– Encurtamentos de tendões e músculos devido à longa permanência em hipertonia;
– Posturas e movimentos anormais resultantes da hipertonia (a curto e médio prazo) e dos encurtamentos músculo-tendinosos: pés equinos, pernas em tesoura, pernas cruzadas, marcha em saltos, marcha de cócoras, etc.

 

ESPASTICIDADE NEM SEMPRE É RUIM

Sabia que a espasticidade tem um lado positivo? Ela pode ser compensatória para a fraqueza muscular de um determinado membro, FACILITANDO a execução de algumas ações simples (alimentar-se, vestir-se, sentar-se ou caminhar, facilitar transferências para o leito ou cadeira de rodas). Sim, ela pode ser ÚTIL ao paciente e aos cuidadores!

Mas, então, quando ela é RUIM? Quando ela interfere nas ações voluntárias, dificulta os cuidados ao paciente (higiene), gera posturas persistentes causando deformidade (escoliose, luxações de quadris ou ombros), provoca dor, dificulta a reabilitação (fisioterapia), impede as transferências e locomoção, impede o paciente de sentar-se ou dormir. Nestas situações, a espasticidade DEVE ser tratada vigorosamente por ser incapacitante!

A avaliação de um especialista para diferenciar entre estas duas situações vão garantir o tratamento personalizado e satisfatório para cada paciente!

 

POR QUE A ESPASTICIDADE PARECE PIORAR EM ALGUNS PERÍODOS DO DIA OU DA VIDA?

Ao longo da vida do paciente, ou mesmo por curtos períodos de tempo, a espasticidade pode flutuar de intensidade, apresentando piora.

Isso pode estar relacionado a:

– Eventual piora da doença que ocasionou a espasticidade (novo surto de esclerose múltipla, novo acidente vascular encefálico, piora da hidrocefalia, medula ancorada, siringomielia pós-traumática);

– Quadro doloroso agudo nas infecções do trato urinário, crises de litíase renal (“pedras nos rins”), luxações (deslocamentos) de articulações, pós-operatórios de qualquer natureza;

– Quadro infeccioso e estados febris (infecções respiratórias, infecções urinárias, infecção de úlceras de decúbito);

– Tolerância às medicações ou aos tratamentos já realizados (como nas aplicações de toxina botulínica);

– Mau posicionamento de órteses e próteses, decúbito inadequado do paciente.

Evidenciar, corrigir e tratar os fatores de agravo da espasticidade são muito importantes no seu controle e melhoram a qualidade de vida do paciente.

 

MEDICAÇÕES PARA ESPASTICIDADE

São muito eficazes e seguras para o tratamento desta condição, e são a primeira escolha no tratamento de qualquer paciente, em qualquer faixa etária.

Basicamente consistem de relaxantes musculares, com diversas propriedades de ação sobre o arco reflexo proprioceptivo segmentar, que está disfuncional na espasticidade.

As mais conhecidas e prescritas são: baclofeno, diazepam, clonazepam, clonidina, tizanidina.

Atualmente tem surgido grande interesse no uso dos canabinoides, que mostram eficácia para pacientes com esclerose múltipla e no tratamento da dor associada à espasticidade. Mais estudos de qualidade científica precisam ser conduzidos para seu uso mais seguro em todos os pacientes espásticos.

 

BOMBA DE BACLOFENO

Imagine um dispositivo que entrega uma medicação contra a espasticidade, diretamente no sistema nervoso central, reduzindo seus efeitos colaterais e aumentando sua eficácia!

Ele existe, é implantável sob anestesia geral e fica sob a pele do paciente, geralmente na região abdominal: é a bomba de infusão intratecal, e a medicação utilizada é o baclofeno!

O baclofeno fica armazenado no reservatório dessa bomba, e automaticamente é injetado, através de um cateter, no líquido cefalorraquidiano (líquor) da coluna ou do cérebro. Com isso, a medicação age mais próximo da região geradora da espasticidade, reduzindo a dose necessária para obter o mesmo efeito de quando tomada por boca.

Se você tem espasticidade, converse com um especialista sobre a indicação e os benefícios deste tratamento.

 

NEUROTOMIAS PARA ESPASTICIDADE

Quando o paciente apresenta espasticidade focal (localizada em um pequeno segmento do corpo), pode-se indicar a lesão total ou parcial do nervo responsável pelos músculos daquele segmento afetado.

Esse procedimento se chama neurotomia, e consiste na interrupção de todas ou parte das fibras que compõem o nervo escolhido.

Uma maneira de testar se o procedimento terá o resultado desejado é fazer o bloqueio do nervo com anestésico local. O efeito do bloqueio é semelhante ao da neurotomia, porém temporário.

O procedimento definitivo é feito sob microcirurgia, cortando-se as fibras do nervo sob visão direta, ou através da injeção de uma substância que destrói o nervo – um álcool conhecido como fenol, em alta concentração.

A indicação e escolha do melhor método depende da funcionalidade motora da região afetada. Cabe ao especialista avaliar as situações e expectativas individualmente.

 

RIZOTOMIA DORSAL SELETIVA

É uma cirurgia sob anestesia geral, que consiste em cortar parte das raízes de sensibilidade (chamadas raízes dorsais) que inervam os membros superiores (neste caso, as raízes da medula cervical) ou inferiores (neste caso, as raízes da medula lombossacral).

É importante entender que não são cortadas as raízes de movimento (motoras), razão pela qual não ocorrem deficiências de movimento após o procedimento. A ideia por trás da cirurgia é interromper o fluxo de sensibilidade pelo arco reflexo que gera a espasticidade (veja nossa postagem anterior: CAUSAS DA ESPASTICIDADE).

Como as lesões são seletivas e parciais, também não ocorre perda completa da sensibilidade dos membros.

É um método adequado para crianças, onde a neuroplasticidade permite uma rápida reabilitação neurológica.

Há várias técnicas descritas na literatura médica, que variam basicamente na extensão do acesso cirúrgico.

Se você tem mais dúvidas sobre esta cirurgia, suas indicações e contra-indicações, seus riscos e benefícios, procure um especialista!

 

LESÃO DA DREZ

O termo DREZ abrevia a expressão “zona de entrada da raiz dorsal”, e corresponde à entrada das raízes de sensibilidade na medula.

Inicialmente indicada para tratar dor refratária, a lesão da DREZ é também utilizada hoje em dia no tratamento da espasticidade grave, levando-se em conta o princípio de interromper o fluxo de sensibilidade pelo arco reflexo acometido (veja nossa postagem anterior, CAUSAS DA ESPASTICIDADE).

Diferentemente da rizotomia dorsal seletiva (veja nossa postagem anterior: RIZOTOMIA DORSAL SELETIVA), que corta parte das raízes, a lesão da DREZ é feita na medula espinhal. Pelo alto risco de deficiência motora pós-operatória, o procedimento é indicado para pacientes com grave espasticidade de membros superiores ou inferiores que já perderam completamente os movimentos voluntários ou funcionais dos membros espásticos. Uma outra indicação comum é a bexiga neurogênica espástica, para os pacientes sem controle urinário.

Uma vantagem é que o mesmo procedimento trata a dor e a espasticidade, sendo uma opção interessante aos pacientes cuja espasticidade é agravada pela dor crônica.

Não deixe de consultar um especialista para obter informações individualizadas e de qualidade!

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